sábado, 15 de dezembro de 2007

ela era tão feminista que até mijava em pé

"homem bom é homem morto". não quis comentar nada. tá certo. espero que ela não esteja armada e aquela sentença não passe de desabafos-bafos de bar. olha moça, eu também acho que a sociedade, como um todo (issui inclui todos os heteros e homos), é machista, e isso gera uma série de empecilhos na emancipação e realização pessoal, quem sabe plena, das pessoas, inclusive dos homens. o machismo é uma herança patriarcal, que, segundo alguns antropólogos tem ligação direta com a propriedade privada, com a acumulação de capital, que moldou a estrutura conjugal monogâmica burguesa que conhecemos até hoje, para garantir aos filhos legítimos do macho as riquezas do pai e do avô. claro que tem uma série de outros fatores importantes inclusos, desde a força física maior que os homens tem, a violência direta contra as mulheres e uma história de opressão contra sexo feminino, numa relação de abusos, estupidez, concluindo numa sociedade estruturada de modo injusto e, portanto, infeliz. mas pense bem, se todos os homens morrerem, o trânsito se tornará finalmente o caos completo, todas as lâmpadas queimadas perdurarão para a eternidade, e, quando eu ia falar sobre os potes de conservas que mofariam sem nunca se abrir, levei uma na cara pra nunca mais fazer piadas em lugares errados. feministas sabem bater. elas são bravas. fico imaginando como elas devem ser na cama...

babuínos sabem do que eu estou falando

escrever faz um bem danado quando ninguém lê. como aquelas frases de porta de banheiro público. uma vez quase saí na mão com um cara de um bairro aí. eu escrevi "meu bairro é foda, foda-se os outros bairros". daí ele escreveu, "bairro de viado o teu", daí escrevi com letras garrafais logo embaixo "fica esperto". uma semana depois estava escrito mais embaixo "sua bicha, vou te matar". daí fiquei putasso e escrevi, "sabe com quem você tá falando?". quando eu pensei que eu tinha dado uma lição nele, ele me volta com "lá na minha área você não dura cinco minutos mané Flávia te amo". achei estranho aquela coisa de amor, cara confuso. fechei o zíper e nem dei descarga, problema do próximo. vai que é ele.
escrever faz um bem danado quando ninguém lê. ou então quem quer que seja que tenha lido, essa pessoa deve estar distante num raio de 300 a 400 quilômetros. porque o que se escreve é exatamente aquilo que não falamos. um complementa o outro. falar é tornar exposto o que se pode tornar exposto. escrever é um modo sofisticado de lubridiar o trio-ternura da casa de máquinas de nossa alma: sr. ego, bonito, pomposo, caminhando a passos precisos e sorrindo e acenando; o sr. superego, cisudo, tenso, controlador, caminha com sua bengala pesada e que machuca; e, lá atrás, senhoras e senhores, o senhor id, anarquicamente pelado, fazendo o caminho inverso e derrubando coisas ao seu redor. se vocês repararem bem, ele acabou de colocar um piercing artesanal naquele lugar, e vejam como ele chacoalha com estusiasmo.
adoro escrever sobre nudez e coisas que chacoalham. babuínos, definitivamente, sabem do que eu estou falando.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

entre postes e córregos

gosto de andar bem rente às vitrines pra pensar que elas estão olhando pra mim. gosto de acariciar cachorros e fazer o bem em público. sozinho eu ainda gosto de cachorros e de fazer o bem, mas em público eu gosto mais ainda. gosto de fingir que não gosto de fazer o bem em público. gosto de fingir em geral.
ele tinha se esforçado pra chegar lá, mas estava cinco minutos atrasados, e bem, vocês conhecem a trupe, o circo não podia parar, e nem esperar por seus palhaços. ele não tinha um puto no bolso. nem o dinheiro da cana, nem o dinheiro da volta. sentou em vão, esperando o contato de um serviço eletrônico que não aconteceria.
gosto de falar de mim e de falar das coisas que eu gosto. gosto de mim porque às vezes acho que ninguém mais gosta.
ele ganhou uma cerveja gelada e um copo limpo. estava sentado a esperar o nada acontecer, como se no nada sempre pudesse conter, bem de leve, algum tudo de expectativa. a cerveja foi por conta da casa, dos papos e da camaradagem. procurava sem muito esforço por garotas interessantes.
quando conheço uma pessoa que não gosta de mim, me esforço pra não gostar dela, mesmo gostando de pessoas que não gostam de mim. minha amiga diz que eu tenho um complexo. meu amigo diz que eu tenho problema. gosto quando as pessoas reparam em mim, mesmo pra fazer críticas.
sua única cerveja acabava e nem estava no meio da madrugada. aparece um colega, e assim poderia definir bem aquele sujeito que ele nem gostava muito, mas também não detestava. era um colega. seria bom se ele pagasse uma cerveja pra ele, seria um modo justo de aguentá-lo. ele avisou da sua precária condição, da fuga da trupe, e, com o seu colega mais aquecido no negócio, foi fácil conseguir mais uma garrafa. esse era o princípio.
gosto daquele tipo de morena, gosto também daquele jeitinho que aquelas orientais têm. claro que gosto da cor do Brasil, e até gosto de estrangeiras quando estão de boca fechada ou não estão tentando demonstrar que se adaptaram ao Brasil. gosto daquelas exóticas, mas não muito pra não dar vergonha. exótica sem chilique.
eles conversaram qualquer assunto que pudesse gerar um outro assunto que pudesse gerar uma outra cerveja que pudesse gerar um outro assunto e assim por diante: basicamente conversaram sobre mulher e futebol.
uma vez quase entrei numa aposta, simbolicamente claro, eu gosto de de dinheiro e apostas, portanto sou fraco, e eu gosto de ter auto-controle, por isso foi uma aposta simbólica mesmo. ah tá, a aposta era sobre um determinado número de garotas num determinado tempo. era difícil mas não era impossível. eu até estava na média, mesmo não gostando de pertencer à média, quando empaquei numa guria de um cabelo perfumado.
a noite foi basicamente aquilo. sozinho e ao mesmo tempo acompanhado, sobraram os dois, e mais meia dúzia de quaisqueres num dia que amanhecia. havia uma garota, na verdade uma mulher. estranha, mas pictoricamente atraente. estamos falando de um palhaço-trapezista, que gosta de desafios, sem nunca perder a piada. o colega era o que mais conversava. tinham até assuntos em comum. ele só olhava. ela olhava também. o colega falava. o gordo por perto foi o primeiro a desistir. o colega falou tanto que acabou não dizendo nada. ele parou de olhar e, numa brincadeira mais simplória, respirou fundo e meteu bronca pra cima daquela. entre postes e banca de jornal, o sol nascia.
gosto de trocar de personalidade. gosto de usar roupas alheias. gosto de pensar que aquilo vai ficar para posteridade, mesmo agindo como se jamais houvesse posteridade, e tudo aquilo simplesmente existe apenas no agora. e agora vale-tudo. eu gosto de pensar só no instante, enquanto estou nele.
ele já estava sozinho com mais dois camaradas de bar, uma estranha, e ainda nenhum dinheiro no bolso. ele morria de sono no segundo boteco. ele bebia, dançava, dormia, comia, conversava, e ria sem saber porque. ele queria ir embora e ela também. ela morava bem longe mas disse que era perto. o palhaço-trapezista ficou em dúvida se aquilo seria uma torta na cara ou um picadeiro aplaudindo em pé. ele atravessou a cidade e fez malabarismos num lugar ermo onde a fechadura foi substituída por um buraco na porta com uma corrente velha. o teto era de zinco e havia uma bíblia na cômoda. na cama, uma mórmom. com certeza o show durou muito menos que a jornada. na volta, uma realidade a pé. uma paisagem cinza, um córrego e prédios abandonados. pessoas simples e gentis. um ônibus e agora ele cochilava e já estava na avenida mais cara e branca e protegida e movimentada e chique e blasé e tudo da cidade. foi só o tempo de acordar e dar o sinal pra descer. o motorista abriu a porta. ele desceu. a platéia foi a loucura. o picadeiro era dele.
gosto de inventar histórias e usar camisetas incentivando o vegetarianismo. mas eu gosto mesmo é de carne.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

havia um bigode, uma tentativa e um tempo a se gastar.
teve aqueles chiados, aqueles ruídos, começou um barulho e terminou sem som de vez.
havia aquela idéia de começar, iniciar e reinventar as coisas.
teve aquele sossego, aquela preguiça, um desistímulo convincente e pasmo generalizado.
houve até, pra surpresa da oposição, um conformismo consentido e assumido como maturidade.
houve um tempo onde tudo precisava significar alguma coisa e agora qualquer coisa precisa apenas significar que já está de bom tamanho.
ele desistiu. antes hesitou. hesitou, hesitou, hesitou, cochilou, lembrou e hesitou novamente. levantou, ainda hesitando, se postrou, ainda hesitando, e esqueceu, sem hesitar, até começar do começo que ele imagina que seja.
é engraçado buscar um significado em cada coisa. porque pequenas coisas podem significar um bocado suficiente pra dessignificar as grandes coisas que são significantes por natureza. e daí me faz pensar que se houvesse um significado pra tudo, provavelmente já haveria um dicionário da vida. mas o problema é quantidade de línguas que falamos. entre eu, o id e o superego há uma babel de efeito previsível.
a confusão primeira gera aquela hesitação segunda, seguida da terça de brancos e negros, e dos dias que passam sem avisar.
tudo que é muito rápido é multado. o meu tempo anda inadimplente. eu apenas ando.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

sempre tive inveja dos skatistas. eles sempre conseguiam mais garotas do que os boleiros.
o futebol só me deu grandes amigos e alguns pontapés dentro de quadra. já o skate produz uma série de hematomas e uma incrível reputação de saltador de degraus entre as gatas.
uma vez até tentei evoluir na cadeia social aprendendo a andar de skate. pra primeira manobra mais simples e básica, só consegui abrir o pulso e quase deixei o skate do meu amigo ser atropelado. aquele shape valia três vezes mais do que meu Penalty ATF. voltei ao futebol.
superada este incômodo adolescentil, me vejo diante da nova modalidade de arriscadores de vida. agora, sem nenhum shape, capacete ou cotoveleira, eles demonstram sua capacidade de correr riscos entre o escorregador, a gangorra e o cavalinho. a turma do le parkour barbariza no playground. comecei a ter um pingo de inveja até perceber como é engraçado ver um cara adulto, de barba na cara, correndo e pulando num parquinho infantil. mais engraçado ainda é ver aquele vídeo que tem um cara correndo e pulando uma cerquinha, sendo que a portinha ao lado estava aberta.

domingo, 16 de setembro de 2007

sábado

o dia-seguinte sempre são iguais. mesma ressaca, mesmas parcas escassas lembranças, que, aos poucos, vão constituindo um mosaico do que veio acontecer nas últimas vinte e quatro horas. a princípio era um churrasco de aniversário, daqueles típicos churrascos de paulista onde a carne é menos relevante que toda aquela cerveja, batidas, vodkas e o povo se lambuzando com aqueles queijos quentes, e som alto, e garotas procurando garotos, e garotos vomitando por aí. duas mordidas e uma encoxada: acho que saí de lá no lucro. levei comigo meu drink e uma boa dose de auto-confiança de bêbado. cheguei na outra festinha, agora esta era cult, todo mundo sentado, povo mais velho, música boa e baixa. cumprimentos em geral, sendo indiscretamente agradável nos primeiros cinco minutos. sapequei de olho grande umas gatas no fundo e peguei minha cerveja. falei minhas bobagens de sempre, tomei mais uma cana, fiquei etilicamente sensível: elogiei um vestido e praguejei contra qualquer bobagem do nosso país. talvez eu tenha dito algo engraçado, porque a mocinha ria comigo, enquanto eu enchia meu bolso de confetes de chocolate. lembrei que ainda tinha outra festa e meu compromisso social me fez sair pela tangente, deixando beijos no ar e com certeza nenhuma saudade pra quem fica. lembrei de pegar mais uma lata, mas esqueci de perguntar o nome da garota. contatei um amigo, e, em vão, fiquei a esperar um ônibus que não veio, o que me fez voltar pra festinha em busca de uma carona. sempre fui cara-de-pau, mais meia dúzia de latinhas de cerveja e alguns drinks coloridos reforçam minha vocação pra pedinte. minha sorte que nunca me abandona conseguiu uma carona que me deixou a quatro quarteirões de descida até a festa. dois ou três telefones e entro à direita na rua certa. eis que a festa já havia ficado morna, mesmo com todo aquele frango e cervejas em baldes de gelo. alguém quebra alguma coisa, alguém fica puto, alguém recebe um esporro, e êpa, esse alguém é um conhecido meu, e quem sabe se eu não tivesse tão ocupado extingüindo o buffet de salada eu saberia ao certo o que tinha contecido. me retiro por consideração e na expectativa que a noite continuasse. era madrugada e não havia ônibus nem metrô. havia quatro quarteirões de subida e mais um quilômetro e meio de avenida. conheci um cafetão uruguaio e um inferninho que não era vinte e quatro horas. nos despedimos num ermo ponto de ônibus e segui sozinho para a matriz de toda criaturagem. sozinho porque é assim que as coisas acontecem. deixo praticamente todo meu dinheiro no taxi, e entro sem volta no mundo da gasolina em embalagem de vodka. está normalmente escuro e uma garota, daquelas que funcionam bem às três da manhã num ambiente que prescinde de visibilidade, vem conversar comigo. era uma figurinha carimbada, mas não completamente. não precisou de muito pra começar explodi-la no fundo da balada. às luzes se acendem e tudo pode acabar se eu recusar atravessar a cidade de ônibus e resolver dormir em casa como de praxe. pego duas conduções, vou em pé, vejo trabalhadores, e senhoras esquisitas. ela cumprimenta alguém no ônibus, alguém que exagerou e está passando mal. trabalhadores e suas mochilas, senhoras esquisitas e suas perucas.
leva quase quarenta minutos pra chegar, contando com os dez minutos de passeio a pé por aquele bairro completamente desconhecido que provavelmente você, no caso eu, nunca mais voltará lá. era um belo domingo ensolarado. era bom pra passear com o cachorro, conversar com o vizinho e dar uns tapas no jardim. mas essa vida, ainda, não é para mim. enquanto estou acordado, enquanto a músico é alta, nós sabemos que há perspectiva de alguma coisa que não vai passar em nenhuma coluna social. chego num muquifo, depois de três andares de degraus, onde um gato preto me enchia o saco. pra toda aquela bagunça ela jurava que estava de mudança, e eu jurava que era a última vez que eu fazia aquilo. fez uma pergunta tão estúpida sobre preservativos que ganhou louros da ignorância em meus pensamentos.
o gato foi parar no chão, e aquela idéia de música arruinou qualquer possibilidade de sustentar um ambiente ou criar um clima, apenas contribuia para minha desconcentração, que apanhava covardemente do meu sono. bem... devo ter dormido uns dez ou vinte minutos indesejáveis ao lado dela. levanto, me visto, pergunto qual o ônibus da volta. dou uma sapecada infeliz como naqueles filmes do Neville d'Almeida e me despeço.
está quente, estou sentado e com muito sono, dividindo um ponto de ônibus com uma senhora e um cara. o trolebus passa, famílias entram pelo caminho e agora já estou na sé, e são quase nove da manhã quando despisto a catedral, e em mais uns cinco minutos de rápidos passos chego ao meu ponto, onde sou agraciado com mais uns quinze minutos de espera do próximo ônibus. entre trabalhadores e meninos de rua eu tomo meu sol e penso em arranjar um emprego e quem sabe começar a cuidar de jardim.

sábado, 1 de setembro de 2007

quente é um morno psicótico e o morno é um quente apático, o que me leva a crer que o frio é o mais equilibrado psicologicamente


refém do celular. mando mensagens para mim mesmo numa tentativa estúpida de preencher, com a matéria mais insubstancial, o vazio que prevalece. a solidão é um privilégio apenas da sabedoria, e para todos aqueles onde o silêncio sustenta a vibração da tua própria respiração e a sensação do teu coração batendo, então este é o barulho mais alto e atordoante, a temperatura mais fria e dilacerante, onde as paredes longes e caiadas permeiam seus caminhos à distância. os livros não soam mais alto que o barulho lá fora. teu pensamento te cega e te surda.
meus olhos juram e me enganam sistematicamente. se aproveitando de meus ensejos, desejos e ensaios, saio pela tangente, corro, escapo, e me calo. me assusto. o tato é mudo. paladar é ansioso, apressado, irresponsável. minha audição promete se comportar. o autismo auditivo é um dos sinais mais proeminentes da psicose. celulares que tocam e você não atende ninguém. pessoas que te chamam mas elas não estão lá.
o que te faz diferente é só a tua honestidade contigo mesmo. esquece o teu cabelo e o casco de qualquer coisa. a tua diferença não se vê, porque parte lá de trás, lá de dentro. só aparece na ponta da superfície bem depois, depois de consolidada. é o modo como você segura o travesseiro; o jeito como cospe depois de escovar os dentes; a forma como você dá boa noite para sua pessoa querida. as pessoas não te ligam porque eles já ligaram pra você e estão ligando pra você nesse exato momento. você não existe, percebe? e quando existe está esparramado em várias formas e pessoas. o que você é, é apenas uma percepção vaga daquilo que você começou a exportar e recebeu de volta. podia ser um bilhetinho de Natal, podia ser o reflexo do espelho do elevador. a excrecência, me perdoe, é o que te dará a dica da tua essência. com a maior autoridade.
e a tua?
a minha?
só essa vontade de ser promíscuo que não passa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007


brincar de esconde-esconde com as árvores é sem graça porque eu sempre ganho. elas se escondem atrás das mesmas árvores. elas nunca conseguem me achar.
não sou ateu, mas fui um teocida. matei Ele e enterrei no quintal junto de um peixinho que por infeliz precaução alimentei duas vezes. será que Ele vai pro céu? agora é minha vez de ser deus. ninguém vai sentir falta dele. ninguém sente falta de nada. ninguém tem tempo pra sentir falta de qualquer coisa. as pessoas constantemente sentem falta de alguma coisa. as pessoas correm apressadas e compram e comem e correm e reclamam e sonham e voltam a realidade e sujam e desperdiçam e pensam no futuro, que francamente, não existe. não adianta pensar numa coisa se ela não existe. o futuro é o constante-não-existível. se o futuro existisse se chamaria presente. e se o presente fosse sinômino de futuro, as pessoas andariam mais deprimidas. deus não está morto, está destraído apenas. e se de repente Ele estiver morto, bom, não fui que matei. e se foi, foi sem querer.
árvores são melhores de subir do que brincar de pega-pega. deus é um pai triste.
fiz um amuleto e sai com ela. depois sai com a outra do cabelo ruivo e bonito. ainda tive tempo de me encontrar com aquela da voz rouca. gracinha. não posso parar. me dei bem e agradeci ao amuleto. garotas bonitas e inteligentes são mais legais que subir em árvore e brincar de deus.
livros fazem você querer sair de casa, jornais não. plantei uma muda no quintal, junto do peixe e de deus. quero que ela vire uma árvore. não tem absolutamente nada a ver com filhos e livros. tem a ver com árvore, tronco, folhas verdes, flores, passarinhos e assobios.
buzinas me dão sustos. enquanto eu não desço eu me distraio. aqui em cima estou perto de desus, dos passarinhos e jamais ela me encontrará. daqui de cima vejo ela parada. enquanto isso penso na outra, na ruiva e na rouca. penso numa música e esqueço que está tarde e preciso descer.
adultos não brincam mais de esconde-esconde. adultos brincam de esconde-esconde o tempo todo, mas sem ninguém procurando, pois assim, a brincadeira nunca acabará.
só vou descer pra molhar minha muda no quintal. ainda bem que estou com meu amuleto.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

a nível de ir embora, aqui eu me despido.


aí que eu tive que parar de falar comigo mesmo. eu tinha o hábito de confirmar tudo que tinha pensado explicando pra alguém nos meus próprios pensamentos. percebi que, como um eco, tudo que eu pensava eu repetia mais umas três vezes, e que se eu parasse de explicar previamente em devaneios e utilizasse esses pensamentos pra pensar coisas novas, eu teria então, uma produção intlectual muito maior. faz sentido, né?
constatei que quando eu tenho uma idéia ou uma dúvida sobre alguma coisa que pra mim é interessante, antes de eu efetivamente perguntar pra alguém, eu costumo testar umas três vezes com algumas pessoas na minha cabeça, simulando a reação delas. então achei melhor eu parar de fazer isso que daí eu não perco tempo com a mesma questão e posso pensar em outras coisas. faz certo, né?
deve ser insegurança mesmo, porque, quando eu penso em alguma coisa que, de repente faz sentido e vale a pena a dizer, eu antes, testo a minha idéia perguntando pra três pessoas e imagino a reação delas pra ver se eu realmente comento aquilo. então, se eu parar de fazer isso, eu ganho tempo com outros pensamentos e tenho um rendimento de idéias maior. acho que rola, né?

não entro em buracos porque sou claustrofóbico (não titubeio em pegar rampas ao invés de elevadores). evito alucinógenos porque tenho a pressão meio baixa, e sei lá, vai que me dá um piripaque. não gosto de fugir porque acho que isso desfavorece minha virilidade. principalmente em público. mas tem momentos em que precisamos desenvolver uma para-realidade pessoal, onde somos amigos do rei e até poetas, e que de preferência não tenha telefones celulares e seu ringtons incovenientes, nem aqueles prazos e decisões importantíssimas do curso das coisas. vida vivida e vida pensada se confundem e às vezes parece que a imaginação ganha proporções tão realísticas, que fazem tanto sentido e são tão divertidas, que chega a dar uma preguiiiça de ver que falta tanto a construir e que aquela história de noventa por cento transpiração e dez por cento inspiração é bem verdade, mas um tanto sem graça, diga-se de passagem. o ideal seria noventa por cento de inspiração, idéias e pensamenos interessantíssimos, da onde aplicaríamos, com uma precisão cirúrgica, os dez por cento de transpiração restante, para sim efetivar alguma coisa na prática. aliás, a prática é uma teoria emergente e desorientada. pelo menos as minhas.


- então...você, vai me ligar?
- não.
- quer que eu te ligue de novo?
- também não.
- você tá com outro, é isso..?
- pode ser..
- (suspiro)quando dias ele te dá?
- ele quem...?
- você sabe Sr. Oliveira. quandos dias? 5? uma semana?
- uns 10 eu acho...
- 10?! você acha...?! com ou sem juros??
- oi?
- com ou sem juros Sr. Oliveira?! estou falando contigo!
- acho que só cobra depois do décimo dia. mas dá pra negociar.
- "mas dá pra negociar". francamente Sr. Oliveira. você se envolve com qualquer um.
- mas ele me dá talão de cheque de graça. e não fica discutindo relacionamento pelo telefone...
- isso foi uma indireta?
- não moça, foi uma direta. posso desligar?
- mas, você sabe das vantagens de ter nosso cartão de crédito? você sabe das nossas lojas credenciadas? da facilidade de empréstimo?
- olha, depois eu penso, tá? é que, quando eu já estou envolvido num relacionamento eu não me sinto muito confortável em ficar flertando com outros e...meu gerente, ele é super ciumento...
- tá bom, Sr Oliveira, não posso te obrigar a nada. só queria dizer que eu sempre fui atenciosa contigo, sempre te liguei, prestando serviço, oferecendo os melhores investimentos, sabe? tudo pensadinho, casadinho com seu perfil, sabe? e o que você faz em troca? eu sempre me senti muito mais dentro, sabe, muito mais envolvida que você. Agora você não. Não abre mão de nada por nós. Sempre foi o egoísta da relação... bem que mamãe estava certa.
- tá ok, moça, eu vou pensar então.
- então... você, vai me ligar?
- não.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

dormir sim, ir dormir não


o problema de ser maluco é que você corre o risco de morrer prematuramente e muito angustiado. o problema de não ser maluco é que você corre o risco de se conformar com sua mediocridade. resolvi deixar de ser ignorante pra ver se conseguia um pouco mais de prestígio com as garotas da pós-graduação. assisti uma série de filmes e li uma pancada de livro. não entendi nada. nem dos europeus, nem dos filósofos, nem das narrativas sem pé nem cabeça, nem das metáforas da sociedade atrasada e moderna. agora justifico o não-entender como mais valioso que entender a obra em si. quando a gente não entende, as coisas se mantêm confusas, e na confusão reside o improviso e o inusitado, o que torna as coisas mais emocionantes. agora, quando você entende a obra, faz com que você queira mostrar pros outros que entendeu, o que te torna meio arrogante e distante. sem contar aquele ar blasè insuportável de que tudo é evidente e desinteressante. que coisa! eu não tinha percebido, e quando percebi, confesso, achei interessante. a ignorância te atrapalha quando você está a pé e se depara com o carro do teu tio parado na calçada e provavelmente vai chover e daí você lembra que não sabe dirigir. também atrapalha quando você tem certeza que desenvolveria uma tese sobre o comportamento humano que revolucionaria os meios de produção e consequentemente a praxis social, buscando uma sociedade onde prestigío se dê pela capacidade de exercer o gozo da existência ao invés do acúmulo dos bens materiais na tua sala de jantar. mas daí, quando você percebe que você empacou na Escola de Frankfurt, que Freud tá começando a ficar esquisito e que Lacan assusta, bom, daí você fecha o livro e vê o que tá passando na Sessão da Tarde.
a ignorância é muito mais fiel que a solidão. esta última te dá uns perdidos quando você se vê emocionado com aquela poesia do Drummond e também resolve tomar um conhaque. a ignorância continua presente até aí, quando você leva um tempo pra perceber que aquela garrafa não é desrosqueando. por isso eu gosto de interruptor. você sempre tem cinquenta por cento de chance de acertar até decorar.
ignorância te atrapalha quando você não entende porque você é ingorante. pior ainda, quando não entende por que pessoas superiores a você lhe parecem mais ignorantes ainda. atrapalha também quando você tem um instrumento musical na sua frente e numa tentativa de tocá-lo você perturba as pessoas em sua volta. mas ignorância te ajuda quando você sai com seus amigos pra se divertir e no caminho vê uma série de mendigos e criancinhas mendiguinhas e realmente acha que você não tem nenhuma responsabilidade nisso.

terça-feira, 17 de julho de 2007

e o chinês que é um americano genérico



a verdade é que eu estava lá somente pela jaqueta. eu achava que era também pra fazer uma médias com as garotas, mas eu namorava e tudo seria em vão. depois que me desvencilhei no papel, continuava frequentando, bisbilhotando, e sempre entrava na sala e nas reuniões. o pessoal deixava e achava legal. é que eu entrava, fazia piadas, mandava beijos, e saía repentinamente. daí concluí que com um sorriso carismático você tem passe livre pra frequentar qualquer lugar. estava funcionando até eu perceber que não se aplicava a banheiros femininos. foi expulso a socos&pontapés, e me custou seis meses de detenção, uma dúzia de dê-pês e uma fama constrangedora de estuprador de menininhas. se não fosse aqueles vinte e quatro pacotes de maços de cigarro o negão teria deturpado meu traseiro branco. o cigarro na cadeia em relação ao de fora é como o euro em relação ao peso cubano. no meu último dia, pedi a mamãe uns charutos para trocar por uns pôsters de umas mulheres que havia na parede, aos quais tinha me afeiçoado muito pelo tempo que estive ali. agora, sem namoradas e amigos, e com um sorriso mais duvidoso que o da mona lisa, guardo meu poster no bolso interno da jaqueta, e, quando vejo um negão eu acendo um cigarro e agradeço a deus por poder andar em linha reta sem parecer um montador de cavalo.

domingo, 15 de julho de 2007


minha próxima aquisição será a disciplina. alguma prateleira, alguma gôndola, algum mercado virtual, ou até espiritual, deve vender. e quem vender, merece ficar rico. em compensação queria me desfazer da fé. contatei o SAC divino: ninguém respondeu. acho que é falta de crédito. mas não adianta. a fé, contrariando as expectativas contemporâneas não é um produto (num sentido mercadológico), o que não impede de você pode ganhar dinheiro com a fé alheia. aliás, você pode ganhar dinheiro com qualquer coisa alheia (e aqui entre nós, eu particularmente adoro alheias, elas não têm dono!). enfim, a fé me atrapalha quando ela me faz pensar que, por algum motivo sabe-se lá qual, deve haver alguma coisa depois da morte, e a gente deve conseguir ver novamente nosso avô que já morreu . portanto, quando penso que deve existir alguma continuidade, e aqui na Terra deve ter algum propósito além do gozo pleno instantâneo, penso que estou fazendo as coisas de um modo equivocado, já que em geral eu vejo o povo fazendo completamente o oposto, e de repente, aquele deus cristão branco, barbudo, com dedo apontado na minha cara, me acusando de qualquer coisa enquanto me distraio vendo o decote a-lhe-i-o, me assombra na mente e me palpita o coração. desculpa-desculpa-desculpa.
tá bom. mas tenta se desfazer da fé. não frequento templos, e de sagrado pra mim só aquela soneca depois do almoço. não cultivo santos, orixás, nem hortaliças. não sou muito chegado a fazer jejum, acender incenso ou esperar algum momento ideal pra transar. sou extremamente displicente para qualquer tipo de religião. sem contar aquele hábito ou de odiar alguém de outra religião ou querer que todo mundo tenha a mesma religião que a sua. francamente, não quero nem que todo mundo torça pro Corinthians, quanto mais ter a minha mesma religião. na verdade, eu estou em voga com a minha geração. a gente não acredita, mas também não mexe com nada que venha do além. reza só quando precisa. agradece à Deus de vez quando (vai que ele existe...). mas por outro lado, se eu me livro da minha fé e definitivamente desacredite em qualquer possibilidade de haver algum sentido e propósito em nossas solitárias existências, creio que teria uma vantagem maior em me afogar nos meus princípios dionisíacos e processos no Serasa. por outro lado, perdendo a minha fé, vou ter que voltar a dormir com o abajour aceso. o que me constrange um pouco quando trago garotas para o meu quarto. às vezes quando bebo penso que tenho o corpo fechado e que Deus me ama. uma vez achei dinheiro na rua e quase tive certeza que, na hierarquia divina, depois de Cristo era eu! Ele gosta muito de mim. me dá muita sorte. mas daí tem aqueles dias de cão onde coincidências extremamente desnecessárias acontecem e você atola a lama até o pescoço, revê todos seus valores-projetos-e-metas e volta ao seu posto de ser humano comum anônimo, sem linha direta com o Homem.
fé tem que ser homeopática, assim como a maturidade. outro dia me dei conta que minha maturidade atrasou, e quando veio, veio tudo de uma vez. tirei o pirulito da boca, e pensei: "o que passava pela minha cabeça pra ter feito as coisas desse jeito?" daí fiz a barba e arranjei uma namorada. guardei meu ursinho no armário pra nunca mais.
um dia contei pro meu amigo que viver apenas o momento presente, o prazer do instante, poderia ser angustiante quando, num dado momento, reparamos que ao longo do perscurso não construímos ou criamos nada. pensar que não fazemos nada muito relevante e que também não há nada muito interessante a se fazer, dá uma sensação de que a morte está próxima, e isso é um tanto frustrante como assustador. mas tentar pensar que cada bobagem do dia-a-dia deveria agregar alguma coisa para nossa existência, vou te falar que é bem perturbador. afinal, se eu fosse genial eu já teria dado algum sinal disso, e bem, vou ter que deixar pra mudar a humanidade pra uma outra encarnação. pior que o senso comum, é você se deparar com uma semelhança daquilo que você despreza. então meu amigo disse "você é muito existencialista". então pensei que se eu lesse alguma coisa do Sartre de repente eu entenderia um pouco doassunto e de alguma forma me ajudar. pois bem, num simples livro de bolso, na segunda página, realmente fiquei curioso de como é possível tornar ininteligível uma série de palavras que isoladamente você sabe o significado mas que de um determinado modo que estão justapostas não fazem o menor sentido. daí você esquece qualquer privilégio divino, e se sente um burro resignado num mundo orientado por meia dúzia de intelectuais geniais que discutem assuntos que nem o google explica.
fechei o livro e guardei na minha instante pra impressionar alguma garota desavisada. e com ajuda dEle, torcer muito pra ela não perguntar nada sobre esse livro, nem pedir emprestado, só olhar o nominho Sartre e agregar à mim um conteúdo que eu não tenho. assim como nossas poses nas baladas e reuniões acadêmicas. tenho consciência que sofro do mal da contemporaneidade: sou agradável e descartável. como tudo em nossa volta, como tudo que produzimos. eu sou tão fictício quanto a imagem que você tem de você mesmo. e isso torna a mentira um jogo muito divertido.

terça-feira, 26 de junho de 2007


foda é uma palavra bem feia mas necessária. tem muita gente que é foda...e foda, é sempre um adjetivo ambíguo por natureza. creio que no fundo todo mundo que é foda, o é, nos dois sentidos. ser foda de muito bom, implica, de alguma maneira, nele ser foda num sentido ruim. Leonardo Da Vinci, por exemplo, era foda. pintor, arquiteto, engenheiro, mania de gênio. foda positivamente. mas, pros amigos do cara na época, o cara era foda no sentido ruim. imagine, o cara pra ser arquiteto, engenheiro, pintor e não-sei-mais-o-quê com um rendimento absurdamente produtivo, passava o dia inteiro em casa-castelo-mosteiro -- sei lá qual era o abrigo daquela época -- estudando. ele provavelmente nunca aparecia em nenhuma festa de aniversário, nenhum batizado de sobrinho, nenhum rolê pela feira de especiarias. tenta combinar alguma coisa com o Da Vinci pra você ver. o cara fura sempre, ele é foda.
isso também vale pro Copérnico. o cara é foda. foda mesmo. primeira ferida no ego da humanidade (Freud que disse, e esse sim, é foda num sentido plenamente-foda). o cara que descobre que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, numa época em que se acreditava em bruxas, dragões e Deus, é foda pra ca-ra-lê-o. porém, o cara pra descobrir isso deveria ser, no mínimo, obcecado pelo assunto. estudando a noite inteira todas as estrelas visíveis. anoitecia, montava a luneta e fiacava até amanhecer. estilo boêmio dos astros. vai tentar trocar idéia com o cara de dia. o cara é um sonâmbulo ambulante. você tá falando e o cara começa a dormir na tua frente. sem mais nem menos. o cara é foda. puta falta de educação...

outro dia, despretensiosamente, tive o prazer de ver o Riquelme jogar. o Riquelme é foda. o cara joga demais, ninguém tira a bola do pé dele; precisa juntar uns três pra dar uma prensa que sempre termina em falta. enquanto o Tuta é a negação de tudo que já se fez pelo futebol (pelo terceiro ano consecutivo ele ganhou seu próprio prêmio Nobel Tuta de Assassinato do Bom Futebol), o Riquelme decide e marca quando precisa. tudo com classe e sofisticação. craque é foda. porém, quem vê ele jogar e depois fica assistindo todos os replays no youtube, quer ter o gostinho de ser alguém na vida em algum momento e resolve fazer igual. lógico que não dá certo. daí, no seu jogo de fim-de-semana, na partida com os caras da faculdade, você pega a bola e tenta, de um modo circense, um efeito genérico de um drible do Riquelme, que obviamente não dá certo e você perde a bola de novo. o cara é foda. a gente tenta imitar ele e faz feio na frente dos amigos. lógico que a culpa é dele e de todo talento que ele tem que causa inveja.

essa minha tese vai causar um rebuliço nas editoras de livros de auto-ajuda. chega de "eu sei que eu posso, eu vou conseguir", ou "espere Saturno esbarrar a casa de Leão, e, após um banho de arruda procure fulana vestido de branco". agora quando o deprimido estiver convencido que ele é um merda de marca maior, apreciando minha tese saberá que, em algum lugar, no teu mais profundo âmago obscurecido e oprimido pelo teu padrasto, deve haver alguma qualidade que despontará como fodíssima para as futuras gerações. "ei, você de fato é um merda, você está certo disso, por isso você é foda: você é um excelente analista"
é mais ou menos por aí.
minha tese só não pode ser publicada ainda porque continuo procurando um foda positivo pro Tuta.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

nenhum substantivo rima com doce. antes fosse fosso que rima com moço


o tédio me faz pensar no sentido das coisas. na verdade, buscar um sentido é pura consequência, vai na inércia. mas conseguir encontrar é quase como ser promovido a presidente da sua empresa. quase como encontrar aquela dos sonhos, unanimamente escolhida pelo teu ego, superego e o id. pega e não larga mais, mesmo. eu bebo enquanto elas pensam. elas pensam o que quiserem enquanto eu bebo. enquanto eu bebo deixo de pensar numa porção de coisas. peço uma porção de qualquer coisa enquanto eu bebo. transar agora me dá doença e beber me dá uma diarréia triste. Dionísio me abandonou. fui entregue réu num tribunal cristão. minha pena é o trabalho compulsório que constrói -- enquanto só eu sei que destrói -- o homem. descalço nunca mais. agora só de sapato. meu curto cabelo expõe facetas de uma futura calvice. minha barba bem-feita permite me apresenta bem aonde não quero ser bem apresentado. a gravata estrangula e sufoca, mais que aquela pentelha. desligo o celular. deixo no bolso de uma calça que eu não uso mais. a lentidão do trânsito me faz pesar no sentido das coisas. sou interrompido ao dar meu lugar a uma velhinha. velhinhas são simpáticas quando saem de casa. as que ficam dentro são sofredoras e rabugentas. e cheiram aquele ar parado e viciado de velhos. ser velho é produzir o anti-feromônio, o hormônio da distância e do desapego. velhinhas simpáticas usam roupas coloridas e tem o cabelo roxo. agora em pé penso tudo de novo. esqueço do meu ponto de descida, do meu ponto de batida, do meu ponto na tabela do funcionário do mês. ainda bem. já fico péssimo em três por quatro de carteirinhas de clube. já fico triste em fotos de casamentos e batizados. quanto mais naquelas enormes, de uniforme impecável da empresa, com aquele sorriso amarelo mais falso que uma nota de três e cinqüenta.
empresas gostam de estímulos e incentivos como as de equipes. uma coisa de guerreiro. você pode, você consegue, vai lá garotão, eles dizem. sejamos um time vencedor. nunca vi um time elejer o jogador do mês. da onde tiraram essa idéia? foto de jogador do mês só nos meus tenros álbuns de infância. nunca consegui completar o álbum inteiro. não faz sentido. não é esse o sentido do álbum. completá-lo é apenas uma distração, um pseudo-propósito. um engodo, de leve. toda a troca das figurinhas, com amigos e estranhos; todo o dinheiro poupado e a corrida em bancas diversas; bater bafo e surrupiar na jogatina é que dão o tom da coleção. acho que a vida é assim também. sem buscar lacunas para preencher: família, esposa, trabalho. todas as trocas que se dão nesse meio termo, o que a gente poupa e gasta, o que a gente surrupia e aprende a perder é o grande barato. ou não. de repente, desço no meu ponto. e ali está meu chefe me parabenizando e me dando uma poltrona mais alta e macia pra eu sentar. me afogo e me perco no meu orgulho. aquela me liga e marca da gente sair. e já agora cobro dos outros e já esqueci tudo que eu pensei. minha natureza passa quilômetros de distância das minhas metas éticas.
peço mais uma. dou um gole grande, e mesmo dizendo para mim mesmo que não estou ligando pro que elas estão pensando, e sim, estou ligando, estou ligando até para o que o guardador de carro da outra calçada está pensando, eu levanto e vou conversar com elas.
la-le-li-o-lá. ta-te-tu-do bem? po-pa-posso sentar? gaguejei tanto que tive que pedir um conhaque. sorte que elas eram simpáticas e solteiras. azar que Dionísio me abandonou e beber ainda me dá uma diarréia triste.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

sobre cachorros, mendigos e baratas.


ele me fascina. ele consegue ser o melhor no que se propõe. ele realmente é o pior. parece que escolhe a dedo. a mais gorda, a mais feia, aquela com uma pinta peluda perto do lábio. aquela que sobra, que ninguém quer, que é mais fácil ignorar que um cachorro perdido na estrada. ele gosta de cachorros. ele até se parece com um. sem o menor pedigree, lógico. ele chega junto com seu cabelo bonitão, ele dança, pega no seu braço e a beija. no dia seguinte mostra a todos o que aprontou. a gorda, a feia, a garota com uma barata na cara. jogaram ele no lixo de latas. todas vazias, sujas e desprezadas pelos bêbados. ele mergulhou lá. não quis sair. gosta do lixo das latas. gosta de ser sujo e se misturar naquilo que não tem valor. ele não tem auto-estima, ele não tem ambição. ele apenas se arrrasta com sua moral mutilada. as pessoas riem dele. eu rio muito. ele gosta de pular e beber e beber mais e pular mais. frenético e insuportável quando bebe. quando se coça as pessoas vão à loucura. quando se coça dormindo e leva tapas na caras o êxtase toma conta da turma. são fotos tiradas, vídeos filmados. todos quererm tirar uma casquinha daquele mendigo. ele é sujo e se coça. ele faz tudo de coração. tem um coração grande, tão grande que cabe até as gordas. não se importa com cachorros, sujeira ou baratas. ele as beija.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

não faço nem que me paguem. nem em euro? titubeei...


me perguntaram se não me dava conta do desperdício. então prometi a mim mesmo que daqui por diante pararia tudo e mudaria completamente. mas já ia eu esquecendo da minha promessa -- você sabe, promessas são feitas para se esquecer assim como celulares são feitos para cair -- quando desperdiçava minha tarde inteira com qualquer bobagem eletrônica colorida. bobagens eletrônicas coloridas e mulheres ruivas realmente desviam minha atenção. tenho medo do que possa acontecer comigo no dia que encontrar uma mulher ruiva me exibindo alguma bobagem eltrôncia colorida. acho que ficaria catatônico até morrer de fome.
aí me disseram "você precisa sair, conhecer umas pessoas". mas, sabe, não é fácil lidar com as pessoas. porque, no início o barato é ser bem preconceituoso. isso te facilita muito as coisas. sendo preconceituoso tudo tem uma explicação fácil: ora, isso é assim porque é digno de pessoas daquele jeito. são menos dúvidas e, portanto, menos angústias. mas daí, quando isso se aplica a você, você fica bem triste pensando "mas ela nem me conhece..." portanto, parei com a humanidade. prefiro plantas. vocês não saem andando enquanto se está falando. e vocês também não gritam, o que já um acréscimo nos dias de hoje.
aí eu até tinha um emprego, e estava lá quando veio de novo meu chefe com aquela mania de me passar umas tarefas. e então eu disse "qualé, você sabe que eu não gosto dessas coisas, porque ainda insiste com isso?" e daí que fui demitido, e o importante é que eu pude ficar com meu macacão, e bem, era por isso que eu estava lá. adoro meu macacão. me sinto bem mais confiante nele. aquele bolso na frente me facilita muito a vida.
ela já não gostava mais de mim. também confesso que já não gostava mais dela e aquilo já tinha empapuçado. mulheres são muito dramáticas. suspeito que setenta por cento delas são de peixes. acabou no meio do banho. nem vi saindo. gritou qualquer coisa como se eu pudesse ouvir com a porta fechada e o chuveiro ligado. sempre reclamava do tempo que eu levava no banho. ela sabia que eu não saio antes dos dedos ficarem enrugados. quando vi, já não estava mais lá.
não me importo. já tenho outra garota. tranquila, na dela. vive com aquela cara de assustada e às vezes murcha. mas daí é só encher de novo.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

falei pelos cotovelos, mordi a língua e coloquei a barba de molho. faria tudo de novo



era um sofá atirado mas confortável uma hora dessas. tava tão feliz que não parava de tocar. uma, duas, trê vezes seguidas. a mesma música. e ele tinha aquele jeito engraçado de mexer as pernas, e era assim mesmo que ele dançava. é assim mesmo que eu danço, ué. uma vez eu tentei aprender, mas mutilei o pé da menina, coitada. dizem quem uma garota quase perdeu o pé dançando com ele. e você sabe dançar? eu? eu não. mas devia. principalmente depois daquela festa. você sabe que você espanta garotas. que eu espanco? es-pan-ta.
tentativa1: você vê né, o sol é dourado, mas se a gente tomar muito sol a gente fica bron-ze-a-do. outra coisa completamente diferente. como pode né? aonde você está indo?
tentativa2: lâmpadas são extremamente previsíveis. aperta acende, aperta apaga. tá me entendendo? então como ela se tornou o símbolo da idéia e da criatividade?
tenativa3, a derradeira: copo de isopor é um lixo. prejudica o meio-ambiente. prefiro queimar minha mão fazendo uma conchinha pra beber café do que usar essa porcaria que não é biodegradável. sabe, eu sou biodegradável.
é. realmente é importante aprender a dançar. mas acho engraçado ver aqueles que ainda não sabem se virando sozinho. quando estou dançando assim eu não penso em nada, às vezes até penso, que estou num palco do maior festival das danças improvisadas autônomas. às vezes penso que estou sozinho no meu quarto. o que será que ele pensa quando está dançando assim? o que você pensa quando está dançando assim? quando estou dançando assim? eu não penso em nada. mas tem uma garota no sofá prestando atenção. queria ser maçom. você vai falar com ela? sempre quis saber fazer aquele aperto de mão secreto, e até agora só consegui constranger as pessoas com um cumprimento de mão bizarro. queria saber dançar. dançar mesmo. de par. você e a gata, sabe? deve ser bom saber dançar. ele está tentando. você e uma mina sabe? dizem que elas gostam. e se de fato ele for um maçom? isso faz dele um cara mais interessante? com certeza. principalmente se tiver uma moto. maçom dança assim? não senhor, essa é apenas a minha forma de extravasar alegria. você consegue garotas com isso? não, não senhor. eu podia suspeitar. sei. mas a idéia é só sacudir o esqueleto, sabe? aprendi com a minha vó. inclusive a expressão. inclusive a expressão, entendi. meu amigo ali acha engraçado o seu jeito de dançar. oi, eu acho engraçado o seu jeito de dançar. você acha engraçado o meu jeito de dançar? eu pensei que era um código dos maçons falar essas coisas. como naqueles filmes de espião, sabe? então fui cumprimentá-los com a aquela manha do dedinho puxado e o dedo do meio tocando no pulso, assim, tá vendo?, pra mostrar que eu também era iniciado na maçonaria. grau um. foi um cumprimento engraçado. eles se afastaram. caraca. bizarro esse cara. ok, eu danço mal e quero ser maçom. eu ainda não sei dançar mas já fui escoteiro. é um princípio. sei fazer nós e atravessar a rua com pessoas idosas. sei. eu estou sempre alerta. e você? eu leio pensamentos, mas por enquanto só o meu. mas me divirto um bocado. quem é você? principalmente usando as expressões da sua vó. exatamente. e quando não danço eu começo a falar tudo bem rápido sobre meu dia meus planos minhas idéias o time que ganhou empatou perdeu e eu não vi e quase esqueço de respirar e quero correr e falo das coisas engraçadas que eu penso e até das coisas que deram errado e eu quero que todos saibam e repito alguma bobagem e peço desculpas e fico sem graça e fico elétrico como uma criança em festa de aniversário com todos aqueles brigadeiros e refrigerantes e coisas doces e gostosas que dão mais energia e a gente fica a cem por hora... e... depois, a gente, vai meio que parando. respirando. e senta no sofá. desliga o som. liga o som e coloca três vezes a mesma música.

sardinha não vem de sarda, taínha não vem de taí, golfinho não vem de golfo; o mundo aquático não faz o menor sentido


no frio minha barba coça muito. ninguém senta do lado do rapaz com o blusão estranho. tem gente de pé até. ele não pára de se coçar. deve ser o frio. a mulher com a pinta na testa lembra a mãe dele. menos pela pinta, mais pelo jeito de se vestir. no ponto, havia muito jovens e uma garota que o seguia com os olhos. era linda. não sabe o risco que estava correndo. pensei em fazer a barba, mas além da água estar gelada, a idéia era deixar a barba crescer, mas não era pra coçar. tinha uma prostituta que dançava com um senhor barrigudo e calvo. barrigudos, como se não bastassem, costumam ser calvos. ou talvez seja o inverso. triste igual. diziam que ele era até envolvido com política. ela tinha uma bolsa de oncinha, zebrinha, ou qualquer inha em extinção. dançava se roçando perturbadoramente para aqueles em volta. se não era, tinha tudo pra ser. no ponto seguinte subiu mais gente. ninguém senta ao lado do rapaz estranho. ele é grande, usa um blusão esquisito e não pára de coçar sua barba. pode ser caspa. caspa não dá em barba bobinha. como não? não dando ué. deve ser sarna. abro a porta. saio. fecho a porta. me viro e afago o cão. quem é o meu garotão. quem é o meu garotão-lindão. abro a outra porta. saio de vez. fecho a porta. coço a barba. é. pensando bem, realmente pode ser sarna. tenho duas notas amassadas no bolso que garantem a volta. nem precisei. torci pra ela subir no meu ônibus e sentar ao meu lado e me perguntar porque eu estava olhando pra ela e eu diria que ela era linda e então ela me perguntaria você quer me beijar e eu diria que não agora, obrigado. elas comentavam do jeito da moça dançar, e o modo como ela se atirava pra cima dos outros. que até devia aceitar cartão. tentei ler um livro mas não me concentrava o suficiente. tinha uma briga lá fora. quase uma covardia. queria descer do ônibus entrar no meio puxar aquele com capacete pelo cangote e quebrar o nariz dele e depois dispersar as pessoas e ainda gritar você tá maluco. sentado, vejo tudo dispersar. como sempre. desisto de vez da leitura. quero me levantar e descer. quero fazer alguma coisa. preciso fazer alguma coisa. me coço, páro e penso. se eu fizer a barba talvez eu fique mais bonito, e quem sabe aquela moça do ponto, suba no meu ônibus, e, sem se importar com meu blusão, sente ao meu lado.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

a zebra é um cavalo com código de barra. girafas são cafonas com suas estampas de oncinha


gente finíssima minha mãe. além de ter me colocado no mundo, ainda me dá comida todo dia. dia-a-dia, sem falta. mas ela anda naquela fase. aquela do triste ninho vazio que os filhotes vão embora. aquela que coincide com a chegada dos netos. estou aqui pra isso. dar muito neto pro papai e pra mamãe. é de recompensa mesmo. ela quer continuar cuidando. gosta de cuidar. mãe cuida, pai poda. mais ou menos por aí. daí quando começa o fim-de-semana-woodstock, mamãezinha quase não me vê, e quando ela acorda cedo e eu dou boa-noite, ela não gosta. então é melhor eu me cuidar porque estou ficando doente, ela diz. mas eu sempre ando com uma camisinha (que mentira) e uma vitamina cê, sou imbatível mamãezinha. mas ela não entende, nem quer entender. primeiro era o alcoolismo, pra eu evitar, tendência de famíla, coisa de gente baixa, que não tem o que fazer. agora, pelo menos, fui promovido à doente intelectual. tuberculose! você vai desenvolver uma tuberculose acordado de madrugada. tuberculose? desde quando tuberculose desenvolve-se? e se desenvolve-se aposto que uma cápsula de vitamina cê todo dia cura. desde meu breve estudo sobre literatura nacional, jurava que pra pegar tuberculose precisava, no mínimo, do superior completo. coisa de poeta, escritor. da vanguarda da angústia moderna. nunca frequentei tabernas. sempre quis. os botecos são todos abertos pra rua. bate um vento nas costas. ouvi dizer que pode até gerar uma tuberculose. tenho pastilhas mentoladas, e de agrião, algumas pra essa minha tosse seca que não passa. ela é louca coitada. ela é uma santa. minha mãe é uma santa mesmo. aposto que nunca transou. mãe cuida, gosta de cuidar. esse é o barato dela. depois que começou, que pegou o jeito, não consegue mais parar. cuidólatra. enquanto ela não é avó, ela cuida da minha. comprei uns passarinhos, mas não teve o mesmo efeito. uns fugiram, outros morreram de sede. mamãe ainda não se recuperou da vovó. então, nada de netinhos. se ela está cantando é porque ela está feliz, eu estou também! parece que nada realmente é. e apenas estamos. saio sem o agasalho e já posso acompanhá-la em meu pensamento, tá frio lá fora, põe um agasalho, mas eu não estou com frio e saio antes que ela retruque alguma coisa. brotou flores, ela cuida com muita atenção, com muito esmero, como aquela "casa muito engraçada", e eu pergunto se tem um nome e ela me diz apenas que orquídeas se chamam orquídeas, e está linda, parabéns. você sabe bem fazer isso mãe, cuidar. portanto, netinhos, te prometo uma porção deles correndo pela sala descalços com as meias encardidas desenhando pelas paredes subindo no sofá pulando na cama pelados por aí. assim como você faz para assim eu continuar fazendo. a tosse seca já passou, mamãe, {um beijo} pode guardar o xarope.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

ele foi um bom comunista até conseguir um bom emprego.


havia dois senhores. se ouvia dois senhores. uma súplica e uma, espécie assim, de súplica também. segurando uma bíblia, ele tocava no ombro da senhora e dizia, pedia, sacramentava, se assentia e assentava, pelo Senhor. segurando uma prancheta, ela indicava valores, prazos e benefícios, pelo Banco. através da fé, Jesus te empresta um bem-estar espiritual, através de um cadastro, o Banco te empresta dinheiro. nos dois você paga, mais cedo ou mais tarde. na mesma praça, um ao lado do outro. no centro da cidade precisa-se vender para viver. alguma coisa. teve uma garota que não me chamou de senhor, mas já foi me cumprimentando, pegando minha mão, me oferecendo qualquer coisa e literalmente me segurando para ouvi-la. estilo as ciganas do viaduto do chá (só que sem aqueles dentes de ouro e o sotaque medonho). apliquei um golpe de judô e me safei da moça. no centro da cidade precisa-se comprar para se livrar (ou se desviar com destreza). o centro é assim, a cara da cidade: multiétnico, superlotado, sujo e feio. é a anti-coluna social. seja quem for aquelas pessoas bem vestidas das festas-celebridades, com seus branquelos sorrisos standarts de capa de revista, com certeza eles não passam pelo nosso centro-bueiro-michê-churrasco-grego-mendigo-cola-de-sapateiro-barulho-
poluição-prédios-antigos-bonitos-cinemas-pornôs-e-profetas-da-cidade.
mas tem coisa boa também. se eu continuasse a dormir na rua com certeza moraria no centro. lá tem chafariz, sombra, música ao vivo, muito lixo pra eu mexericar e, qualquer coisa, tem o metrô que sai para quase toda cidade.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

transei com uma grávida apenas para participar de um menàge-a-trois


personalidade de massinha. sou uma pessoal altamente influenciável. logo depois que li On the Road fiz minha mochila e fui atrás de caronas até conhecer o oceano pacífico. acontece que caronas, hoje em dia, costumam ser perigosas, e que, perigo, pedofilia e gengibre não fazem muito meu gênero. pessoas estupram, raptam e vendem órgãos humanos. li isso hoje num jornal tablóide. desfiz a mochila. lembrei que eu preciso dos meus órgãos. até mesmo aqueles inúteis que Deus deu só pra atrapalhar: amídala, apêndice, dente do ciso e unha encravada. quando eu li o Debord prometi a mim mesmo que nunca mais trabalharia e que o meu tcc na faculdade deveria se auto-destruir depois de pronto. bum! a academia é um espetáculo! abaixo o trabalho alienado. daí meu amigo me deu carona no carro novo dele. tem ar condicionado e banco de couro. no marketing se paga melhor. fui fazer uma entrevista porque estava cansado de andar de transporte coletivo. não funcionou a barba arranhadamente bem-feita. a dinâmica em grupo me fez perceber que não tenho a menor capacidade de parecer interessante em trinta segundos de auto-apresentação. seria melhor se tivesse ficado calado. chamar atenção por exclusão: sou tão interessante que não perco meu tempo fazendo apresentações medíocres entre candidatos medíocres, por favor, me poupe e me dê um desafio maior. pensei nisso enquanto voltava de ônibus. ainda não conheço o pacífico e já traí os situacionistas. personalidade de massinha.