sexta-feira, 25 de maio de 2007

sardinha não vem de sarda, taínha não vem de taí, golfinho não vem de golfo; o mundo aquático não faz o menor sentido


no frio minha barba coça muito. ninguém senta do lado do rapaz com o blusão estranho. tem gente de pé até. ele não pára de se coçar. deve ser o frio. a mulher com a pinta na testa lembra a mãe dele. menos pela pinta, mais pelo jeito de se vestir. no ponto, havia muito jovens e uma garota que o seguia com os olhos. era linda. não sabe o risco que estava correndo. pensei em fazer a barba, mas além da água estar gelada, a idéia era deixar a barba crescer, mas não era pra coçar. tinha uma prostituta que dançava com um senhor barrigudo e calvo. barrigudos, como se não bastassem, costumam ser calvos. ou talvez seja o inverso. triste igual. diziam que ele era até envolvido com política. ela tinha uma bolsa de oncinha, zebrinha, ou qualquer inha em extinção. dançava se roçando perturbadoramente para aqueles em volta. se não era, tinha tudo pra ser. no ponto seguinte subiu mais gente. ninguém senta ao lado do rapaz estranho. ele é grande, usa um blusão esquisito e não pára de coçar sua barba. pode ser caspa. caspa não dá em barba bobinha. como não? não dando ué. deve ser sarna. abro a porta. saio. fecho a porta. me viro e afago o cão. quem é o meu garotão. quem é o meu garotão-lindão. abro a outra porta. saio de vez. fecho a porta. coço a barba. é. pensando bem, realmente pode ser sarna. tenho duas notas amassadas no bolso que garantem a volta. nem precisei. torci pra ela subir no meu ônibus e sentar ao meu lado e me perguntar porque eu estava olhando pra ela e eu diria que ela era linda e então ela me perguntaria você quer me beijar e eu diria que não agora, obrigado. elas comentavam do jeito da moça dançar, e o modo como ela se atirava pra cima dos outros. que até devia aceitar cartão. tentei ler um livro mas não me concentrava o suficiente. tinha uma briga lá fora. quase uma covardia. queria descer do ônibus entrar no meio puxar aquele com capacete pelo cangote e quebrar o nariz dele e depois dispersar as pessoas e ainda gritar você tá maluco. sentado, vejo tudo dispersar. como sempre. desisto de vez da leitura. quero me levantar e descer. quero fazer alguma coisa. preciso fazer alguma coisa. me coço, páro e penso. se eu fizer a barba talvez eu fique mais bonito, e quem sabe aquela moça do ponto, suba no meu ônibus, e, sem se importar com meu blusão, sente ao meu lado.

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