segunda-feira, 28 de maio de 2007

não faço nem que me paguem. nem em euro? titubeei...


me perguntaram se não me dava conta do desperdício. então prometi a mim mesmo que daqui por diante pararia tudo e mudaria completamente. mas já ia eu esquecendo da minha promessa -- você sabe, promessas são feitas para se esquecer assim como celulares são feitos para cair -- quando desperdiçava minha tarde inteira com qualquer bobagem eletrônica colorida. bobagens eletrônicas coloridas e mulheres ruivas realmente desviam minha atenção. tenho medo do que possa acontecer comigo no dia que encontrar uma mulher ruiva me exibindo alguma bobagem eltrôncia colorida. acho que ficaria catatônico até morrer de fome.
aí me disseram "você precisa sair, conhecer umas pessoas". mas, sabe, não é fácil lidar com as pessoas. porque, no início o barato é ser bem preconceituoso. isso te facilita muito as coisas. sendo preconceituoso tudo tem uma explicação fácil: ora, isso é assim porque é digno de pessoas daquele jeito. são menos dúvidas e, portanto, menos angústias. mas daí, quando isso se aplica a você, você fica bem triste pensando "mas ela nem me conhece..." portanto, parei com a humanidade. prefiro plantas. vocês não saem andando enquanto se está falando. e vocês também não gritam, o que já um acréscimo nos dias de hoje.
aí eu até tinha um emprego, e estava lá quando veio de novo meu chefe com aquela mania de me passar umas tarefas. e então eu disse "qualé, você sabe que eu não gosto dessas coisas, porque ainda insiste com isso?" e daí que fui demitido, e o importante é que eu pude ficar com meu macacão, e bem, era por isso que eu estava lá. adoro meu macacão. me sinto bem mais confiante nele. aquele bolso na frente me facilita muito a vida.
ela já não gostava mais de mim. também confesso que já não gostava mais dela e aquilo já tinha empapuçado. mulheres são muito dramáticas. suspeito que setenta por cento delas são de peixes. acabou no meio do banho. nem vi saindo. gritou qualquer coisa como se eu pudesse ouvir com a porta fechada e o chuveiro ligado. sempre reclamava do tempo que eu levava no banho. ela sabia que eu não saio antes dos dedos ficarem enrugados. quando vi, já não estava mais lá.
não me importo. já tenho outra garota. tranquila, na dela. vive com aquela cara de assustada e às vezes murcha. mas daí é só encher de novo.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

falei pelos cotovelos, mordi a língua e coloquei a barba de molho. faria tudo de novo



era um sofá atirado mas confortável uma hora dessas. tava tão feliz que não parava de tocar. uma, duas, trê vezes seguidas. a mesma música. e ele tinha aquele jeito engraçado de mexer as pernas, e era assim mesmo que ele dançava. é assim mesmo que eu danço, ué. uma vez eu tentei aprender, mas mutilei o pé da menina, coitada. dizem quem uma garota quase perdeu o pé dançando com ele. e você sabe dançar? eu? eu não. mas devia. principalmente depois daquela festa. você sabe que você espanta garotas. que eu espanco? es-pan-ta.
tentativa1: você vê né, o sol é dourado, mas se a gente tomar muito sol a gente fica bron-ze-a-do. outra coisa completamente diferente. como pode né? aonde você está indo?
tentativa2: lâmpadas são extremamente previsíveis. aperta acende, aperta apaga. tá me entendendo? então como ela se tornou o símbolo da idéia e da criatividade?
tenativa3, a derradeira: copo de isopor é um lixo. prejudica o meio-ambiente. prefiro queimar minha mão fazendo uma conchinha pra beber café do que usar essa porcaria que não é biodegradável. sabe, eu sou biodegradável.
é. realmente é importante aprender a dançar. mas acho engraçado ver aqueles que ainda não sabem se virando sozinho. quando estou dançando assim eu não penso em nada, às vezes até penso, que estou num palco do maior festival das danças improvisadas autônomas. às vezes penso que estou sozinho no meu quarto. o que será que ele pensa quando está dançando assim? o que você pensa quando está dançando assim? quando estou dançando assim? eu não penso em nada. mas tem uma garota no sofá prestando atenção. queria ser maçom. você vai falar com ela? sempre quis saber fazer aquele aperto de mão secreto, e até agora só consegui constranger as pessoas com um cumprimento de mão bizarro. queria saber dançar. dançar mesmo. de par. você e a gata, sabe? deve ser bom saber dançar. ele está tentando. você e uma mina sabe? dizem que elas gostam. e se de fato ele for um maçom? isso faz dele um cara mais interessante? com certeza. principalmente se tiver uma moto. maçom dança assim? não senhor, essa é apenas a minha forma de extravasar alegria. você consegue garotas com isso? não, não senhor. eu podia suspeitar. sei. mas a idéia é só sacudir o esqueleto, sabe? aprendi com a minha vó. inclusive a expressão. inclusive a expressão, entendi. meu amigo ali acha engraçado o seu jeito de dançar. oi, eu acho engraçado o seu jeito de dançar. você acha engraçado o meu jeito de dançar? eu pensei que era um código dos maçons falar essas coisas. como naqueles filmes de espião, sabe? então fui cumprimentá-los com a aquela manha do dedinho puxado e o dedo do meio tocando no pulso, assim, tá vendo?, pra mostrar que eu também era iniciado na maçonaria. grau um. foi um cumprimento engraçado. eles se afastaram. caraca. bizarro esse cara. ok, eu danço mal e quero ser maçom. eu ainda não sei dançar mas já fui escoteiro. é um princípio. sei fazer nós e atravessar a rua com pessoas idosas. sei. eu estou sempre alerta. e você? eu leio pensamentos, mas por enquanto só o meu. mas me divirto um bocado. quem é você? principalmente usando as expressões da sua vó. exatamente. e quando não danço eu começo a falar tudo bem rápido sobre meu dia meus planos minhas idéias o time que ganhou empatou perdeu e eu não vi e quase esqueço de respirar e quero correr e falo das coisas engraçadas que eu penso e até das coisas que deram errado e eu quero que todos saibam e repito alguma bobagem e peço desculpas e fico sem graça e fico elétrico como uma criança em festa de aniversário com todos aqueles brigadeiros e refrigerantes e coisas doces e gostosas que dão mais energia e a gente fica a cem por hora... e... depois, a gente, vai meio que parando. respirando. e senta no sofá. desliga o som. liga o som e coloca três vezes a mesma música.

sardinha não vem de sarda, taínha não vem de taí, golfinho não vem de golfo; o mundo aquático não faz o menor sentido


no frio minha barba coça muito. ninguém senta do lado do rapaz com o blusão estranho. tem gente de pé até. ele não pára de se coçar. deve ser o frio. a mulher com a pinta na testa lembra a mãe dele. menos pela pinta, mais pelo jeito de se vestir. no ponto, havia muito jovens e uma garota que o seguia com os olhos. era linda. não sabe o risco que estava correndo. pensei em fazer a barba, mas além da água estar gelada, a idéia era deixar a barba crescer, mas não era pra coçar. tinha uma prostituta que dançava com um senhor barrigudo e calvo. barrigudos, como se não bastassem, costumam ser calvos. ou talvez seja o inverso. triste igual. diziam que ele era até envolvido com política. ela tinha uma bolsa de oncinha, zebrinha, ou qualquer inha em extinção. dançava se roçando perturbadoramente para aqueles em volta. se não era, tinha tudo pra ser. no ponto seguinte subiu mais gente. ninguém senta ao lado do rapaz estranho. ele é grande, usa um blusão esquisito e não pára de coçar sua barba. pode ser caspa. caspa não dá em barba bobinha. como não? não dando ué. deve ser sarna. abro a porta. saio. fecho a porta. me viro e afago o cão. quem é o meu garotão. quem é o meu garotão-lindão. abro a outra porta. saio de vez. fecho a porta. coço a barba. é. pensando bem, realmente pode ser sarna. tenho duas notas amassadas no bolso que garantem a volta. nem precisei. torci pra ela subir no meu ônibus e sentar ao meu lado e me perguntar porque eu estava olhando pra ela e eu diria que ela era linda e então ela me perguntaria você quer me beijar e eu diria que não agora, obrigado. elas comentavam do jeito da moça dançar, e o modo como ela se atirava pra cima dos outros. que até devia aceitar cartão. tentei ler um livro mas não me concentrava o suficiente. tinha uma briga lá fora. quase uma covardia. queria descer do ônibus entrar no meio puxar aquele com capacete pelo cangote e quebrar o nariz dele e depois dispersar as pessoas e ainda gritar você tá maluco. sentado, vejo tudo dispersar. como sempre. desisto de vez da leitura. quero me levantar e descer. quero fazer alguma coisa. preciso fazer alguma coisa. me coço, páro e penso. se eu fizer a barba talvez eu fique mais bonito, e quem sabe aquela moça do ponto, suba no meu ônibus, e, sem se importar com meu blusão, sente ao meu lado.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

a zebra é um cavalo com código de barra. girafas são cafonas com suas estampas de oncinha


gente finíssima minha mãe. além de ter me colocado no mundo, ainda me dá comida todo dia. dia-a-dia, sem falta. mas ela anda naquela fase. aquela do triste ninho vazio que os filhotes vão embora. aquela que coincide com a chegada dos netos. estou aqui pra isso. dar muito neto pro papai e pra mamãe. é de recompensa mesmo. ela quer continuar cuidando. gosta de cuidar. mãe cuida, pai poda. mais ou menos por aí. daí quando começa o fim-de-semana-woodstock, mamãezinha quase não me vê, e quando ela acorda cedo e eu dou boa-noite, ela não gosta. então é melhor eu me cuidar porque estou ficando doente, ela diz. mas eu sempre ando com uma camisinha (que mentira) e uma vitamina cê, sou imbatível mamãezinha. mas ela não entende, nem quer entender. primeiro era o alcoolismo, pra eu evitar, tendência de famíla, coisa de gente baixa, que não tem o que fazer. agora, pelo menos, fui promovido à doente intelectual. tuberculose! você vai desenvolver uma tuberculose acordado de madrugada. tuberculose? desde quando tuberculose desenvolve-se? e se desenvolve-se aposto que uma cápsula de vitamina cê todo dia cura. desde meu breve estudo sobre literatura nacional, jurava que pra pegar tuberculose precisava, no mínimo, do superior completo. coisa de poeta, escritor. da vanguarda da angústia moderna. nunca frequentei tabernas. sempre quis. os botecos são todos abertos pra rua. bate um vento nas costas. ouvi dizer que pode até gerar uma tuberculose. tenho pastilhas mentoladas, e de agrião, algumas pra essa minha tosse seca que não passa. ela é louca coitada. ela é uma santa. minha mãe é uma santa mesmo. aposto que nunca transou. mãe cuida, gosta de cuidar. esse é o barato dela. depois que começou, que pegou o jeito, não consegue mais parar. cuidólatra. enquanto ela não é avó, ela cuida da minha. comprei uns passarinhos, mas não teve o mesmo efeito. uns fugiram, outros morreram de sede. mamãe ainda não se recuperou da vovó. então, nada de netinhos. se ela está cantando é porque ela está feliz, eu estou também! parece que nada realmente é. e apenas estamos. saio sem o agasalho e já posso acompanhá-la em meu pensamento, tá frio lá fora, põe um agasalho, mas eu não estou com frio e saio antes que ela retruque alguma coisa. brotou flores, ela cuida com muita atenção, com muito esmero, como aquela "casa muito engraçada", e eu pergunto se tem um nome e ela me diz apenas que orquídeas se chamam orquídeas, e está linda, parabéns. você sabe bem fazer isso mãe, cuidar. portanto, netinhos, te prometo uma porção deles correndo pela sala descalços com as meias encardidas desenhando pelas paredes subindo no sofá pulando na cama pelados por aí. assim como você faz para assim eu continuar fazendo. a tosse seca já passou, mamãe, {um beijo} pode guardar o xarope.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

ele foi um bom comunista até conseguir um bom emprego.


havia dois senhores. se ouvia dois senhores. uma súplica e uma, espécie assim, de súplica também. segurando uma bíblia, ele tocava no ombro da senhora e dizia, pedia, sacramentava, se assentia e assentava, pelo Senhor. segurando uma prancheta, ela indicava valores, prazos e benefícios, pelo Banco. através da fé, Jesus te empresta um bem-estar espiritual, através de um cadastro, o Banco te empresta dinheiro. nos dois você paga, mais cedo ou mais tarde. na mesma praça, um ao lado do outro. no centro da cidade precisa-se vender para viver. alguma coisa. teve uma garota que não me chamou de senhor, mas já foi me cumprimentando, pegando minha mão, me oferecendo qualquer coisa e literalmente me segurando para ouvi-la. estilo as ciganas do viaduto do chá (só que sem aqueles dentes de ouro e o sotaque medonho). apliquei um golpe de judô e me safei da moça. no centro da cidade precisa-se comprar para se livrar (ou se desviar com destreza). o centro é assim, a cara da cidade: multiétnico, superlotado, sujo e feio. é a anti-coluna social. seja quem for aquelas pessoas bem vestidas das festas-celebridades, com seus branquelos sorrisos standarts de capa de revista, com certeza eles não passam pelo nosso centro-bueiro-michê-churrasco-grego-mendigo-cola-de-sapateiro-barulho-
poluição-prédios-antigos-bonitos-cinemas-pornôs-e-profetas-da-cidade.
mas tem coisa boa também. se eu continuasse a dormir na rua com certeza moraria no centro. lá tem chafariz, sombra, música ao vivo, muito lixo pra eu mexericar e, qualquer coisa, tem o metrô que sai para quase toda cidade.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

transei com uma grávida apenas para participar de um menàge-a-trois


personalidade de massinha. sou uma pessoal altamente influenciável. logo depois que li On the Road fiz minha mochila e fui atrás de caronas até conhecer o oceano pacífico. acontece que caronas, hoje em dia, costumam ser perigosas, e que, perigo, pedofilia e gengibre não fazem muito meu gênero. pessoas estupram, raptam e vendem órgãos humanos. li isso hoje num jornal tablóide. desfiz a mochila. lembrei que eu preciso dos meus órgãos. até mesmo aqueles inúteis que Deus deu só pra atrapalhar: amídala, apêndice, dente do ciso e unha encravada. quando eu li o Debord prometi a mim mesmo que nunca mais trabalharia e que o meu tcc na faculdade deveria se auto-destruir depois de pronto. bum! a academia é um espetáculo! abaixo o trabalho alienado. daí meu amigo me deu carona no carro novo dele. tem ar condicionado e banco de couro. no marketing se paga melhor. fui fazer uma entrevista porque estava cansado de andar de transporte coletivo. não funcionou a barba arranhadamente bem-feita. a dinâmica em grupo me fez perceber que não tenho a menor capacidade de parecer interessante em trinta segundos de auto-apresentação. seria melhor se tivesse ficado calado. chamar atenção por exclusão: sou tão interessante que não perco meu tempo fazendo apresentações medíocres entre candidatos medíocres, por favor, me poupe e me dê um desafio maior. pensei nisso enquanto voltava de ônibus. ainda não conheço o pacífico e já traí os situacionistas. personalidade de massinha.