segunda-feira, 27 de agosto de 2007


brincar de esconde-esconde com as árvores é sem graça porque eu sempre ganho. elas se escondem atrás das mesmas árvores. elas nunca conseguem me achar.
não sou ateu, mas fui um teocida. matei Ele e enterrei no quintal junto de um peixinho que por infeliz precaução alimentei duas vezes. será que Ele vai pro céu? agora é minha vez de ser deus. ninguém vai sentir falta dele. ninguém sente falta de nada. ninguém tem tempo pra sentir falta de qualquer coisa. as pessoas constantemente sentem falta de alguma coisa. as pessoas correm apressadas e compram e comem e correm e reclamam e sonham e voltam a realidade e sujam e desperdiçam e pensam no futuro, que francamente, não existe. não adianta pensar numa coisa se ela não existe. o futuro é o constante-não-existível. se o futuro existisse se chamaria presente. e se o presente fosse sinômino de futuro, as pessoas andariam mais deprimidas. deus não está morto, está destraído apenas. e se de repente Ele estiver morto, bom, não fui que matei. e se foi, foi sem querer.
árvores são melhores de subir do que brincar de pega-pega. deus é um pai triste.
fiz um amuleto e sai com ela. depois sai com a outra do cabelo ruivo e bonito. ainda tive tempo de me encontrar com aquela da voz rouca. gracinha. não posso parar. me dei bem e agradeci ao amuleto. garotas bonitas e inteligentes são mais legais que subir em árvore e brincar de deus.
livros fazem você querer sair de casa, jornais não. plantei uma muda no quintal, junto do peixe e de deus. quero que ela vire uma árvore. não tem absolutamente nada a ver com filhos e livros. tem a ver com árvore, tronco, folhas verdes, flores, passarinhos e assobios.
buzinas me dão sustos. enquanto eu não desço eu me distraio. aqui em cima estou perto de desus, dos passarinhos e jamais ela me encontrará. daqui de cima vejo ela parada. enquanto isso penso na outra, na ruiva e na rouca. penso numa música e esqueço que está tarde e preciso descer.
adultos não brincam mais de esconde-esconde. adultos brincam de esconde-esconde o tempo todo, mas sem ninguém procurando, pois assim, a brincadeira nunca acabará.
só vou descer pra molhar minha muda no quintal. ainda bem que estou com meu amuleto.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

a nível de ir embora, aqui eu me despido.


aí que eu tive que parar de falar comigo mesmo. eu tinha o hábito de confirmar tudo que tinha pensado explicando pra alguém nos meus próprios pensamentos. percebi que, como um eco, tudo que eu pensava eu repetia mais umas três vezes, e que se eu parasse de explicar previamente em devaneios e utilizasse esses pensamentos pra pensar coisas novas, eu teria então, uma produção intlectual muito maior. faz sentido, né?
constatei que quando eu tenho uma idéia ou uma dúvida sobre alguma coisa que pra mim é interessante, antes de eu efetivamente perguntar pra alguém, eu costumo testar umas três vezes com algumas pessoas na minha cabeça, simulando a reação delas. então achei melhor eu parar de fazer isso que daí eu não perco tempo com a mesma questão e posso pensar em outras coisas. faz certo, né?
deve ser insegurança mesmo, porque, quando eu penso em alguma coisa que, de repente faz sentido e vale a pena a dizer, eu antes, testo a minha idéia perguntando pra três pessoas e imagino a reação delas pra ver se eu realmente comento aquilo. então, se eu parar de fazer isso, eu ganho tempo com outros pensamentos e tenho um rendimento de idéias maior. acho que rola, né?

não entro em buracos porque sou claustrofóbico (não titubeio em pegar rampas ao invés de elevadores). evito alucinógenos porque tenho a pressão meio baixa, e sei lá, vai que me dá um piripaque. não gosto de fugir porque acho que isso desfavorece minha virilidade. principalmente em público. mas tem momentos em que precisamos desenvolver uma para-realidade pessoal, onde somos amigos do rei e até poetas, e que de preferência não tenha telefones celulares e seu ringtons incovenientes, nem aqueles prazos e decisões importantíssimas do curso das coisas. vida vivida e vida pensada se confundem e às vezes parece que a imaginação ganha proporções tão realísticas, que fazem tanto sentido e são tão divertidas, que chega a dar uma preguiiiça de ver que falta tanto a construir e que aquela história de noventa por cento transpiração e dez por cento inspiração é bem verdade, mas um tanto sem graça, diga-se de passagem. o ideal seria noventa por cento de inspiração, idéias e pensamenos interessantíssimos, da onde aplicaríamos, com uma precisão cirúrgica, os dez por cento de transpiração restante, para sim efetivar alguma coisa na prática. aliás, a prática é uma teoria emergente e desorientada. pelo menos as minhas.


- então...você, vai me ligar?
- não.
- quer que eu te ligue de novo?
- também não.
- você tá com outro, é isso..?
- pode ser..
- (suspiro)quando dias ele te dá?
- ele quem...?
- você sabe Sr. Oliveira. quandos dias? 5? uma semana?
- uns 10 eu acho...
- 10?! você acha...?! com ou sem juros??
- oi?
- com ou sem juros Sr. Oliveira?! estou falando contigo!
- acho que só cobra depois do décimo dia. mas dá pra negociar.
- "mas dá pra negociar". francamente Sr. Oliveira. você se envolve com qualquer um.
- mas ele me dá talão de cheque de graça. e não fica discutindo relacionamento pelo telefone...
- isso foi uma indireta?
- não moça, foi uma direta. posso desligar?
- mas, você sabe das vantagens de ter nosso cartão de crédito? você sabe das nossas lojas credenciadas? da facilidade de empréstimo?
- olha, depois eu penso, tá? é que, quando eu já estou envolvido num relacionamento eu não me sinto muito confortável em ficar flertando com outros e...meu gerente, ele é super ciumento...
- tá bom, Sr Oliveira, não posso te obrigar a nada. só queria dizer que eu sempre fui atenciosa contigo, sempre te liguei, prestando serviço, oferecendo os melhores investimentos, sabe? tudo pensadinho, casadinho com seu perfil, sabe? e o que você faz em troca? eu sempre me senti muito mais dentro, sabe, muito mais envolvida que você. Agora você não. Não abre mão de nada por nós. Sempre foi o egoísta da relação... bem que mamãe estava certa.
- tá ok, moça, eu vou pensar então.
- então... você, vai me ligar?
- não.