sexta-feira, 15 de junho de 2007

nenhum substantivo rima com doce. antes fosse fosso que rima com moço


o tédio me faz pensar no sentido das coisas. na verdade, buscar um sentido é pura consequência, vai na inércia. mas conseguir encontrar é quase como ser promovido a presidente da sua empresa. quase como encontrar aquela dos sonhos, unanimamente escolhida pelo teu ego, superego e o id. pega e não larga mais, mesmo. eu bebo enquanto elas pensam. elas pensam o que quiserem enquanto eu bebo. enquanto eu bebo deixo de pensar numa porção de coisas. peço uma porção de qualquer coisa enquanto eu bebo. transar agora me dá doença e beber me dá uma diarréia triste. Dionísio me abandonou. fui entregue réu num tribunal cristão. minha pena é o trabalho compulsório que constrói -- enquanto só eu sei que destrói -- o homem. descalço nunca mais. agora só de sapato. meu curto cabelo expõe facetas de uma futura calvice. minha barba bem-feita permite me apresenta bem aonde não quero ser bem apresentado. a gravata estrangula e sufoca, mais que aquela pentelha. desligo o celular. deixo no bolso de uma calça que eu não uso mais. a lentidão do trânsito me faz pesar no sentido das coisas. sou interrompido ao dar meu lugar a uma velhinha. velhinhas são simpáticas quando saem de casa. as que ficam dentro são sofredoras e rabugentas. e cheiram aquele ar parado e viciado de velhos. ser velho é produzir o anti-feromônio, o hormônio da distância e do desapego. velhinhas simpáticas usam roupas coloridas e tem o cabelo roxo. agora em pé penso tudo de novo. esqueço do meu ponto de descida, do meu ponto de batida, do meu ponto na tabela do funcionário do mês. ainda bem. já fico péssimo em três por quatro de carteirinhas de clube. já fico triste em fotos de casamentos e batizados. quanto mais naquelas enormes, de uniforme impecável da empresa, com aquele sorriso amarelo mais falso que uma nota de três e cinqüenta.
empresas gostam de estímulos e incentivos como as de equipes. uma coisa de guerreiro. você pode, você consegue, vai lá garotão, eles dizem. sejamos um time vencedor. nunca vi um time elejer o jogador do mês. da onde tiraram essa idéia? foto de jogador do mês só nos meus tenros álbuns de infância. nunca consegui completar o álbum inteiro. não faz sentido. não é esse o sentido do álbum. completá-lo é apenas uma distração, um pseudo-propósito. um engodo, de leve. toda a troca das figurinhas, com amigos e estranhos; todo o dinheiro poupado e a corrida em bancas diversas; bater bafo e surrupiar na jogatina é que dão o tom da coleção. acho que a vida é assim também. sem buscar lacunas para preencher: família, esposa, trabalho. todas as trocas que se dão nesse meio termo, o que a gente poupa e gasta, o que a gente surrupia e aprende a perder é o grande barato. ou não. de repente, desço no meu ponto. e ali está meu chefe me parabenizando e me dando uma poltrona mais alta e macia pra eu sentar. me afogo e me perco no meu orgulho. aquela me liga e marca da gente sair. e já agora cobro dos outros e já esqueci tudo que eu pensei. minha natureza passa quilômetros de distância das minhas metas éticas.
peço mais uma. dou um gole grande, e mesmo dizendo para mim mesmo que não estou ligando pro que elas estão pensando, e sim, estou ligando, estou ligando até para o que o guardador de carro da outra calçada está pensando, eu levanto e vou conversar com elas.
la-le-li-o-lá. ta-te-tu-do bem? po-pa-posso sentar? gaguejei tanto que tive que pedir um conhaque. sorte que elas eram simpáticas e solteiras. azar que Dionísio me abandonou e beber ainda me dá uma diarréia triste.

Um comentário:

Anônimo disse...

ah tonto